sábado, 2 de julho de 2011

Quinze minutos se passaram desde que o relógio tocou uma música alta e estridente que faria qualquer um dar um pulo da cama (e era o que normalmente acontecia), mas não hoje. Hoje Helena acordou sem vontade de levantar como se já esperasse por um dia ruim quando tivesse ido dormir. Sentia uma dor intensa na cabeça e pensou seriamente em ficar em casa. Mas não ficou.
Levantou vagarosamente e praticamente se arrastou até o banheiro, no caminho ligou a TV para ouvir as noticias como todo dia e entrou no banho. Pensamentos distorcidos ecoavam em sua cabeça e a cada nova idéia um novo latejar. Na TV o apresentador do tele jornal falava sobre o caso das três mulheres assassinadas e de como estavam sendo efetuadas varias buscas para encontrar o assassino.
Terminou seu banho já se sentindo um pouco melhor, vestiu-se pegou a bolsa e saiu. Entrou no elevador e apertou o térreo. Desceu com aquela maldita musica do elevador batendo no seu cérebro dolorido e deu graças quando as portas se abriram. Caminhou até o carro e sentiu como se alguém a estivesse seguindo. Calmamente retirou o estojo de maquiagem da bolsa e usou o espelho para olhar por cima dos ombros como já tinha visto varias vezes em filmes de ação que assistia na sexta à noite, foi quando seu corpo gelou.
O que ela viu foi um homem alto com uma expressão um tanto sinistra se aproximando rapidamente observou que em suas mãos estava algo brilhante que parecia muito com uma faca, lembrou imediatamente da noticia da TV e teve outro calafrio, sua mente lhe dizia que ela deveria ter ficado enfiada na maldita cama, mas agora era tarde e precisava sair daquela situação, mas o que fazer? Já não sabia, o desespero começou a tomar conta do seu corpo, não sabia se corria, se parava, se chorava, se gritava, então que teve um surto de consciência e lembrou do spray que havia ganho de seu amigo Carlos como presente de amigo secreto. Retirou ele calmamente da bolsa e se preparou para a aproximação, olhou mais uma vez disfarçadamente no espelho e viu que o Homem estava poucos metros dela. Tremeu e quando sentiu finalmente a mão em seu ombro (minutos que demoraram horas) num gesto preciso apertou o spray de pimenta contra o rosto do Homem que na hora largou a faca que segurava e começou a gritar e dar socos no ar. Um atingiu seu rosto e por um momento sentiu a escuridão invadir sua cabeça, mas ao tocar o chão recuperou os sentidos, rolou para o lado e pegou a faca caída no chão e enterrou na perna do homem que a abordara. O estranho soltou um grito e caiu no chão. Helena levantou correu até seu carro, abriu a porta com dificuldade entrou, trancou a porta e ligou o carro. Saiu cantando pneus e viu o homem tentando levantar (o que era muito difícil quando se tem o nervo da perna dilacerado por uma lamina de 5 cm de largura). Pensou em como tinha sorte de estar viva, sorte que as outras vitimas daquele desgraçado não tinham tido e começou a relembrar das imagens das vitimas que haviam passado na TV, inclusive uma da mulher com sua filhinha. Naquele momento o medo deu lugar ao ódio e pensou em todas as vitimas que aquele maldito poderia fazer.
Parou de pensar e começou a agir.
Freou  bruscamente o carro e engatou a ré.
Olhou pelo espelho retrovisor e viu o homem já em pé.
Acelerou.
O carro acertou o homem em cheio e ela viu sua expressão de dor quando sua cabeça acertou o para brisa ao passar rolando por cima do carro.
Ele caiu no chão ainda vivo, mas já muito machucado.
Ela friamente saiu do carro e naquele momento ela não era mais a vitima.
Foi até junto ao homem que respirava com dificuldades e falou próximo ao seu ouvido.
-         Isso é pela mãe da menininha, desgraçado. Sorriu.
Voltou para o carro engatou a marcha e passou mais uma vez por cima do homem, parou engatou a ré e mais uma vez atropelou aquele corpo já sem vida.
O sangue escorria no chão e por cima de seu carro. Pedaços de cérebro e carne se misturam numa débil dança vermelha.
Saiu do estacionamento exatamente uma hora e meia após ter entrado no elevador, mas para ela havia passado poucos segundos, entrou na via expressa e parou em um posto de combustível. O frentista olhou todo aquele sangue e perguntou.
-         Cachorro?
-         Sim dos grandes. Ela respondeu.
-         Morreu?
-         Sim este não vai morder mais ninguém. Você pode lavar para mim?
-         Claro, senhora!
-         Obrigada.
Vinte minutos depois estava saindo do posto e era incrível como se sentia bem. Mais tarde ouvira na TV que o assassino tinha sido encontrado totalmente desfigurado e que a policia não tinha encontrado provas (o que era mentira) de quem tinha cometido esse ato heróico.
Ela vomitou após a noticia e jurou que morreria com ela este ato de justiça. Mas também pensou como seria legal fazer isso com seu chefe e com mais uma ou duas pessoas que a importunavam no trabalho.
Naquele dia um assassino havia morrido... Mas um muito pior havia nascido.